Pe. José Bento C.Ss.R

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segunda-feira, 16 de maio de 2011



6. Mãe de Deus


Em seu mistério profundo, Maria é Mãe de Deus. Como vocacionada do Pai, Maria aceitou livremente ser a mãe de Jesus Cristo, o Filho de Deus que assumiu nossa natureza humana. “Mãe de Deus” aparece na oração da Ave-Maria, na Salve-Rainha e na Ladainha de Nossa Senhora.
A maternidade divina de Maria constitui o seu título mais importante. Esse privilégio não só interessa a ela, mas a toda a humanidade. “Deus quer ser homem, isto é, deseja autocomunicar-se a um diferente de si mesmo. Maria é o meio escolhido por Deus para a encarnação de seu Filho. Os caminhos de Deus e da humanidade cruzam-se nela.
O que valoriza a participação de Maria é sua liberdade: livremente dá a Deus o seu ‘sim’. Não se pode aceitar um Deus encarnado sem aceitar Maria que lhe deu a carne humana” (Dom Murilo S. R. Krieger, bispo e escritor mariano).

Dogma mariano mais antigo
A maternidade divina de Maria é o mais antigo dogma mariano, que foi proclamado oficialmente pela Igreja. Surgiu como reação às pregações de Nestório (380-451), patriarca de Constantinopla. De início pastor zeloso, o patriarca incorreu na heresia que desviava a verdadeira concepção do mistério da encarnação.
Nestório afirmava duas naturezas de Cristo muito unidas, mas constituindo duas pessoas. Por isso, manifestava que Maria é a Mãe do homem Jesus, mas não a Mãe de Deus. Conseqüentemente, Deus tinha habitado num homem, mas não se tinha feito homem.
Não existiu verdadeira encarnação. Com isso, a própria redenção do homem caiu por terra. Essa heresia nestoriana causou grave escândalo no meio do povo e do clero, provocando divisões e paixões dentro da Igreja.
O nestorianismo foi combatido por São Cirilo, patriarca da Alexandria, que buscou recuperar a fé ortodoxa. Em 430, o Sínodo de Roma condenou as idéias de Nestório.
Desqualificando o nestorianismo, o Concílio de Éfeso definiu explicitamente que Maria é Mãe de Deus (“Theotokos”), aos 22 de junho de 431. Classificou o nestorianismo como heresia e depôs Nestório de sua sede patriarcal. O povo acolheu com alegria e grande festa os resultados do Concílio.
O objetivo do Concílio de Éfeso era afirmar a unidade da pessoa de Cristo. Maria é Mãe de Jesus Cristo, o Filho de Deus que se encarnou. Toda Mãe é Mãe de uma pessoa. Qual a pessoa que nasceu de Maria? A pessoa que nasceu de Maria é a segunda pessoa da Santíssima Trindade, que dela assumiu a carne humana.
Maria não é, porém, a mãe apenas de carne humana, mas de toda a realidade do seu Filho, que tinha uma só Pessoa. Daí dizer que Maria é Mãe de Deus, não enquanto Deus sem mais, mas enquanto Deus feio homem. Portanto, “Theotokos” significa, teologicamente, não genitora da divindade, mas geradora do Verbo encarnado.

Origem do título
Os estudiosos estimam que o título Mãe de Deus (“Theotokos”) apareceu pela primeira vez, na literatura cristã, nos escritos de Orígenes de Alexandria (+ 250).
Diversos Padres da Igreja afirmavam a maternidade divina de Maria. São João Damasceno (675-749) explicava tal dogma do seguinte modo: “Nós dizemos que Deus nasceu de Maria, não no sentido de que a divindade do Verbo dependia de Maria, nas no sentido de que o Verbo, o qual, fora antes do tempo, nasceu do Pai, é eterno como o Pai e o Espírito Santo; na plenitude dos tempos viveu no seu seio, para nossa salvação e sem mudança, tornou carne e nasceu dela.
A Virgem não gerou simplesmente um homem, mas um verdadeiro Deus, Deus não sem carne, mas feito carne”.
Vários Concílios da Igreja referiram-se à maternidade divina de Maria, reafirmando e esclarecendo o dogma. Realizado em 451, o Concílio de Calcedônia deu uma formulação mais verbal e jurídica às afirmações do Concílio de Éfeso.
Com sua linguagem própria, dizia tal Concílio: “O Filho que antes dos séculos é gerado pelo Pai segundo a divindade, do mesmo modo, nos últimos dias, por nós e por nossa salvação, é gerado por Maria virgem Mãe de Deus segundo a humanidade”.

Raízes bíblicas
A maternidade divina de Maria tem profundas e sólidas raízes bíblicas. Os evangelhos referem-se, várias vezes, a Nossa Senhora como Mãe de Jesus. Com o título de “Mãe”, a Virgem Santíssima é designada 25 vezes no Novo Testamento.
De maneira concisa, São Paulo afirma: “Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher, submetido à Lei para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adotados como filhos” (Gl 4,4-5). Assim, Jesus Cristo, aquele que foi enviado do Pai, é também filho de Maria.
A fundamentação bíblica encontra-se, explicitamente, em todos os evangelistas. São Mateus mostra que Maria gera Jesus Cristo por obra do Espírito Santo (Mt 1,18-25). Deixa claro que Jesus, o Filho de Maria, é o Salvador prometido por Deus nas Sagradas Escrituras (Mt 2,1-12). Chama também Maria de mãe de Jesus (Mt 13,55).
São Lucas diz que a concepção de Jesus por Maria procede da ação do Espírito Santo (Lc 1,26-38). Mostra que ela é reconhecida como mãe do Salvador (Lc 1,39-45). Descreve que ela dá à luz a Jesus Cristo em Belém, na Judéia (Lc 2,1-7).
São Marcos menciona que Jesus Cristo é o filho de Maria (Mc 3,31-35;6,3).
No Evangelho de João, Maria não é indicada pelo nome próprio, mas pela sua missão de ser mãe. Nas bodas de Cana, o título “Mãe de Jesus” é repetido 3 vezes (Cf. Jo 2,1.3.5); “sua mãe” aparece 1 vez (Cf. Jo 2,12). No Calvário, a denominação “Mãe de Jesus” é referida 1 vez (Cf. 19,25); “sua mãe” encontra-se 3 vezes (Cf. 19,26-27). Em outro texto, João faz referência que Maria é mãe de Jesus (Jo 6,42).
Ao apresentar a primeira comunidade cristã, o livro dos Atos dos Apóstolos narra que os apóstolos tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus (Cf. At 1,12-14).

Base da teologia marial
A maternidade divina de Maria é base e princípio fundamental da teologia marial. Está na origem dos demais dogmas marianos. Todas as graças, privilégios e títulos de Maria estão fundamentados nesta verdade mariana.
A maternidade divina de Maria é a chave explicativa de seu mistério e missão. Mais do que um privilégio pessoal, a maternidade de Nossa Senhora está a serviço da salvação do povo.
O dogma da maternidade divina nos ensina que Deus, na pessoa de Jesus Cristo, entrou na história humana. “Proclamar Maria Mãe de Deus significa proclamar que, realmente, o Reino de Deus ‘já está no meio de nós’ (Lc 17,21;Mt 4,17).
Deus já está dentro de nossa história e é um dos nossos, tendo assumido tudo, menos o pecado. Maria é aquela que, em nosso nome, colaborou para que isso acontecesse” (Dom Murilo S. R. Krieger, bispo e escritor mariano).

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